Capítulo VI

A palavra “educar” origina-se do latim educare, que significa conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível de educação (Aranha,1998). O ato peagógico pode então ser definido como uma atividae sistemática de interação entre seres sociais, tanto em nível intrapessoal como em ambiental. Estabelece-se  a inter-relação, no ato pedagógico, de três componentes: um agente ( alguém, um grupo, um meio social), uma mensagem transmitida ( conteúdos, métodos automatismos, habilidades) e um educando ( aluno, grupo de alunos, uma geração).

Cabe ao educador, despertar no educando uma motivação, uma análise de suas necessidades, assim o cirurgião-dentista deve desenvolver essa habilidade afim de ser capaz de persuadir seus pacientes a mudarem de comportamento e, assim, conseguir controlar as doenças da cavidade bucal. A educação pode ser classificada em dois tipos: A bancária e a problematizadora. A bancária, é quando o educando é passivo no processo de aprendizagem, ele apenas recebe as informações, sem ter o direito de criticá-las, é um tipo de educação que não deve mais ser praticada, pois sem interação não há aprendizado. A problematizadora, é um conceito atual, que visa a interação, o diálogo, e a crítica do processo de aprendizagem. Nela, educando e educador, estão num mesmo patamar, o que facilita o ensino, e a troca de informações e portanto deve ser empregada pelos cirurgiões-dentistas no processo de aprendizagem.

Existem três domínios relacionados ao tema “educação”, que são os domínios: cognitivo, afetivo e psicomotor. A área de domínio cognitivo é aquela que deprende o conhecimento dos indivíduos a respeito de saúde plena e suas implicações na quantidade e qualidade de vida. Uma parcela muito grande da população pode estar utilizando métodos preventivos, como a escovação com dentifrícios fluoretados, sem mesmo saber de seu valor na prevenção de cárie dentária, apenas utilizando-o como um meio conhecido de cuidar de sua estética e ter uma boca limpa e perfumada. A área de domínio afetivo deve merecer especial atenção por parte da equipe de saúde, pois o componente afetivo de um ser humano pode leva-lo a desempenhar tarefas que venham de encontro aos objetivos traçados pelos planejadores. Os apelos afetivos devem ser enfatizados procurando-se explorar a afeição pais / filhos, a religiosidade, os conhecimentos preexistentes e os aspectos políticos e sociais que possam alcançar um maior interesse da clientela em adquirir e internalizar conceitos que redundem em melhor saúde, em particular, saúde bucal. Quando os conhecimentos necessários à compreensão de um tema estão bem sedimentados em uma comunidade e há motivação adequada, bem próximo do domínio afetivo, resta a execução dos atos que conduzem à saúde desejada por meio da chamada área de domínio psicomotor. Assim é que,uma vez automatizado, não é necessário recordar a cada momento como é que se deve conduzir uma escovação dentária.

Portanto, para que seja realmente efetiva, a educação depende de uma fina sintonia entre educadores e educandos, do estabelecimento de uma relação harmoniosa entre as partes, de trocas freqüentes de experiências, partindo do conhecimento da comunidade local e de suas necessidades e anseios para que haja motivação e mudança de comportamentos.

 

Métodos educativos:

A seleção dos métodos a serem utilizados está na dependência direta da faixa etária, da condição socioeconômica, do local e do assunto a ser abordado. Os recursos indicados para a educação são os que seguem: por meio da palavra falada, por meio da palavra escrita( impressos, folhetos, historinhas, revistas e encartes), por meio de recursos audiovisuais, como filmes, multimídia e slides, podem ser utilizados para todas as faixas etárias , e ainda podem ser utilizados meios de comunicação de massa, rádio, imprensa e televisão além de outros, que atingem um grande número de pessoas ao mesmo tempo.

 

  GESTANTES E CRIANÇAS DE ZERO A DOIS ANOS DE IDADE

 

O ideal é que a mãe seja educada antes do nascimento do bebê, orientação às mães quanto à dieta balanceada; o momento da higienização deve ser agradável, introdução à escovação, quando além da função de limpeza, a escova deve ter uma imagem que estimule o lúdico; exemplo da mãe sobre o filho e estímulo neurolinguístico. Algumas orientações específicas devem ser abordadas com as mães ou responsáveis para que tenham conhecimento dos fatores de risco e assim minimizá-los como: -

-Conhecimento por parte da mãe que ela é responsável pela construção da saúde bucal do seu filho;

-o aleitamento materno é indispensável para o desenvolvimento físico, emocional e dentofacial do bebê;

-explicar a placa bacteriana e como removê-la; a importância da dentição decídua para uma dentição permanente saudável;

-cárie de mamadeira ( prejuízos de mamadeiras noturnas,m hábito de dormir sem realizar a higiene adequada, cariogenicidade do leite materno;

- Controle da dieta (orientar quanto a importância de estabelecer hábitos alimentares saudáveis);

- Controle do uso de dentifrício;

- Hábitos inadequados ( chupeta, dedo, posturas noturnas, respiração bucal)

- Medicamentos ( presença de sacarose);

- Limpar os roletes gengivais com fraldas ou gazes embebidas em água filtrada; após a erupção dentária iniciar o uso da escova.

-Não passar mel ou açúcar nas chupetas ou bicos de mamadeiras;

 

 

CRIANÇAS DE DOIS A QUATRO ANOS DE IDADE

 

Estimular o uso da escova de dentes por meio de brincadeiras e de jogos lúdicos, sempre abordagens muito rápidas; colocar a criança no mundo dos adultos quanto à higienização e à alimentação; imputar conceitos de saúde bucal; enfatizar a coletividade e a mãe sempre procurando dar exemplo das atividades de cuidados com a saúde bucal.

 

CRIANÇAS DE QUATRO A SEIS ANOS DE IDADE

 

Contar histórias enfocando higienização, flúor, trauma, alimentação, e saúde, de curta duração e linguagem adequada; estimular a realização do autocuidado com a boca; supervisionar a escovação; demonstrar carinho durante a higienização; valorizando o bom desempenho nas tarefas atribuídas. A música, o teatro de fantoches, os cartazes, as brincadeiras, e os macromodelos são recursos usados com bons resultados nessa faixa etária.

O processo de educação em saúde bucal deve começar por volta dos três anos de idade, quando os hábitos ainda estão sendo formados, e antes que eles se estabeleçam inadequadamente e tornem-se resistentes à mudança.

 

CRIANÇAS DE SEIS A NOVE ANOS DE IDADE

 

Orientar de forma direta, reforçando os movimentos circulares para a higienização, demonstrar atenção à sua saúde oral; valorizar o seu bom desempenho nas tarefas atribuídas, atender preferencialmente em grupo; iniciar o uso do fio dental como parte da higiene oral; questionar quanto ao valor da higienização; usar evidenciadores. Procurar sempre que possível, utilizar recursos audiovisuais com personagens infantis de projeção atual,  as histórias em vídeo, teatro, musicais, slides e mesmo revistas e desenhos educativos para pintar conseguem prender a atenção e passar as mensagens desejadas além da orientação direta.

 

CRIANÇAS DE 9 A 12 ANOS DE IDADE

 

Enfocar o porquê da higienização e sua importância para manutenção da saúde, usar evidenciadores, usar fio dental, relacionar saúde, dieta, uso inteligente do açúcar e saúde bucal; explicar cientificamente sobre a placa bacteriana, o processo da doença cárie e os métodos preventivos. Os recursos mais indicados para essa faixa etária são os filmes em vídeo, slides, palestras curtas e estórias em quadrinhos.

 

ADOLESCENTES DE 12 A 15 ANOS IDADE

 

Neste grupo é interessante trabalhar com a auto-estima; as orientações quanto a higiene, saúde e doença são as mesmas passadas para o grupo anterior tomando o cuidado na adequação da linguagem própria do grupo; deixá-los tomar decisões a respeito da higienização; usar evidenciadores e trabalhar com desafios e com a responsabilidade do adolescente. Os recursos que melhor atingem esse grupo são os filmes e os slides com abordagens de, no máximo, 30 minutos, palestras rápidas e demonstrações práticas.

JOVENS DE 15 A 18 ANOS DE IDADE E ADULTOS

Trabalhar com a auto-estima; chamar a atenção para a auto-responsabilidade com a saúde, reforçar a importância da aparência, explicar sobre os cuidados com  a saúde, higiene, dieta inteligente do açúcar e saúde bucal.

As reuniões em grupo devem ser encorajadas; as discussões de temas voltados para a saúde própria e de seus familiares podem ser importantes  para a motivação relacionada à saúde, devem ser ressaltadas as qualidades dos indivíduos que demonstram grande responsabilidade individual e social tornando-os co-agentes participativos nos processos de mudanças comportamentais desejáveis para a manutenção do estado de saúde bucal.

IDOSOS

Segundo Feldman e Forciea ( 1998), os idosos viveram em uma época de grande deficiência quanto a informações e conscientização da importância da saúde bucal, um quadro clínico caracterizado, principalmente, pela falta dos dentes e, ainda, um maior risco de apresentar cáries, periodontopatias e câncer bucal. Os idosos podem apresentar três condições funcionais, sendo, funcionalmente independentes, parcialmente dependentes e totalmente dependentes. Nesses dois últimos grupos há a necessidade do acompanhamento de uma terceira pessoa, um “cuidador” a qual deve conhecer os pontos importantes na manutenção da saúde bucal do idoso. Podem ocorrer alterações no paladar, na visão, no olfato, na audição, na capacidade de locomoção e na comunicação, além de edentulismo.

Algumas das doenças sistêmicas mais prevalentes nos idosos são arteriosclerose, distúrbios gastrintestinais e respiratórios, anemias, doenças do sistema nervoso central, diabetes, e doenças geniturinárias.

Os cuidadores devem receber orientações quanto aos cuidados com as próteses totais e removíveis, à capacidade do idoso para realizar sua higiene bucal e à dificuldade para alimentar-se; devem evitar que a alimentação seja exclusiva ou habitualmente de alimentos moles e observar alterações da mucosa bucal e sangramento gengival.

Pode-se trabalhar com imagens correlacionando o processo saúde – doença, e por emio delas explicar como ocorre a doença e o que é possível fazer para obter e manter a saúde bucal, desmistificando a doença cárie como algo que é inevitável e até natural por muitos, assim como a doença periodontal. Orientar quanto à higiene bucal, a técnicas de higienização, a cuidados com a prótese, dieta/nutrição, e a bochechos com flúor ou clorexidina quando necessário. Os recursos que produzem melhores resultados são filmes, slides, palestras, cartazes e atividades interativas.

Bibliografia: Educação em Saúde Bucal ( Antonio Carlos Pereira & Colaboradores)